Published on

Interoperabilidade em sistemas governamentais

Tempo de leitura
10 minutos de leitura.
Autores
  • avatar
    Name
    Vicente Calfo
    Twitter

Ao possibilitar a colaboração entre sistemas governamentais, a interoperabilidade tem o potencial de melhorar consideravelmente a qualidade dos serviços públicos, tornando-os mais acessíveis, eficientes e personalizados para o cidadão.

O que é interoperabilidade?

A interoperabilidade é a capacidade de diversos sistemas e organizações trabalharem juntos, permitindo que pessoas, instituições e sistemas computacionais interajam de forma eficaz e eficiente, trocando informações de maneira fluída. Trata-se da ideia de possibilitar uma interação harmoniosa entre diferentes elementos, resultando em uma colaboração fluida e na troca efetiva de dados.

Conceitos de interoperabilidade e integração são frequentemente usados como sinônimos. No entanto, é importante ressaltar que esses conceitos são distintos, embora complementares.

Qual a diferença entre interoperabilidade e integração?

Apesar de estarem relacionados, os conceitos de interoperabilidade e integração têm diferenças importantes. Vamos entender isso de uma forma mais clara:

A interoperabilidade é sobre fazer com que diferentes sistemas e organizações possam trabalhar em conjunto de maneira eficiente, permitindo que eles se comuniquem e compartilhem informações. É como se fosse o trabalho em equipe, onde todos falam a mesma língua, mesmo que cada um tenha suas particularidades.

Já a integração envolve unir harmoniosamente diferentes partes em um sistema unificado. É como montar um quebra-cabeças, onde cada peça representa um componente, e a integração é o processo de encaixá-las para formar uma imagem completa. No entanto, é importante lembrar que a integração depende da compatibilidade tecnológica, ou seja, os componentes precisam usar tecnologias que sejam compatíveis para se conectarem adequadamente.

Dessa forma, a interoperabilidade trata da comunicação eficiente entre sistemas diversos, enquanto a integração envolve a união de componentes em um sistema unificado. Ambos são importantes para garantir que diferentes partes de um sistema possam trabalhar juntas de maneira eficiente e efetiva, mas a integração requer essa compatibilidade tecnológica para que tudo funcione corretamente.

Para entender melhor como a interoperabilidade funciona, é crucial reconhecer que a comunicação eficiente entre sistemas diversos requer a utilização de padrões. É por isso que é importante conhecer as três camadas essenciais que organizam os processos de interoperabilidade: organizacional, semântica e técnica. Cada uma dessas camadas estabelece diretrizes e estruturas que permitem a troca eficaz de informações entre sistemas e organizações distintas. Ao explorarmos cada uma dessas camadas, poderemos compreender como elas contribuem para alcançar uma interoperabilidade harmoniosa e eficiente.

As camadas de interoperabilidade

Camada organizacional

A interoperabilidade organizacional refere-se à colaboração entre organizações que desejam trocar informações, mesmo possuindo estruturas internas, sistemas desenvolvidos com tecnbologias diferentes e processos de negócios distintos. Embora haja uma padronização de conceitos, cada organização tem seus próprios modelos operacionais e processos de trabalho únicos. Isso significa que as atividades são realizadas em momentos e formas diferentes. Portanto, um desafio da interoperabilidade é identificar as vantagens de cada tipo de interação e determinar o momento adequado para sua ocorrência.

Para alcançar isso, as organizações envolvidas no esforço de interoperar devem ter um conhecimento mútuo de seus processos de trabalho. Isso só é possível se ambas tiverem seus processos devidamente modelados, e ainda melhor se esses modelos seguirem o mesmo padrão no momento em que eles irão trocar os dados.

Imagine um cenário em que um órgão de assistência médica primária e outro responsável pelo gerenciamento de registros de pacientes em uma região precisam colaborar para melhorar a prestação de serviços de saúde. Ambas as organizações possuem estruturas internas e sistemas de informações distintos.

Para alcançar a interoperabilidade organizacional, essas organizações precisam trabalhar em conjunto e compartilhar informações de forma eficiente. Isso envolve mapear seus processos de trabalho e identificar pontos em que faz sentido a troca de dados. Por exemplo, o órgão de assistência médica primária pode enviar registros de saúde de pacientes para o órgão de gerenciamento de registros, permitindo acesso abrangente e preciso às informações de saúde em toda a região.

A padronização de comunicação e formatos de dados é fundamental para garantir que as informações sejam transmitidas de maneira segura e compreensível. Isso permite que médicos e profissionais de saúde acessem rapidamente os registros dos pacientes, independentemente de onde tenham sido atendidos anteriormente.

Camada semântica

A interoperabilidade semântica é a capacidade de sistemas heterogêneos e distribuídos trabalharem juntos, compartilhando informações e tendo um entendimento comum do significado dessas informações. Isso significa que os dados trocados são corretamente interpretados dentro do contexto de uma transação ou busca de informação, levando em consideração a cultura, as convenções e as terminologias adotadas por cada setor ou organização envolvida.

No contexto do exemplo anterior, a interoperabilidade semântica seria fundamental para garantir que os registros de saúde compartilhados entre o órgão de assistência médica primária e o órgão de gerenciamento de registros fossem corretamente interpretados por ambas as partes. Isso envolveria o uso de terminologias e conceitos comuns, para que as informações fossem compreendidas de maneira consistente e precisa.

Por exemplo, ao compartilhar um registro médico, é essencial que os termos e conceitos usados para descrever diagnósticos, procedimentos e medicamentos sejam compreendidos da mesma forma pelos dois sistemas. Isso evita mal-entendidos e erros na interpretação das informações, garantindo uma troca de dados efetiva e confiável.

Camada técnica

A interoperabilidade técnica diz respeito à conexão entre sistemas e serviços de computação por meio do uso de padrões para apresentação, coleta, troca, processamento e transporte de dados. Esses padrões podem englobar aspectos como hardware, software, protocolos e processos de negócio. Uma vez que os motivos e os momentos adequados para a interoperabilidade tenham sido identificados, juntamente com a definição de vocabulários comuns, é necessário estabelecer um padrão para realizar essa interação, ou seja, determinar "como fazer". É fundamental que as áreas de tecnologia utilizem padrões tecnológicos comuns para implementar a interoperabilidade.

No contexto da saúde do exemplo anterior, a interoperabilidade técnica seria essencial para garantir a troca eficiente e segura de dados entre o órgão de assistência médica primária e o órgão de gerenciamento de registros. Por exemplo, a definição de padrões para a formatação e transporte dos registros de saúde permitiria que os sistemas envolvidos se comunicassem de maneira adequada, independentemente das tecnologias e plataformas utilizadas por cada órgão. Isso facilitaria a interoperabilidade entre os sistemas, promovendo a troca precisa e confiável de informações, e contribuindo para uma melhor coordenação e qualidade dos serviços de saúde.

Portanto, a interoperabilidade técnica desempenha um papel crucial na garantia da comunicação eficaz e no compartilhamento de dados entre sistemas diversos, proporcionando uma base sólida para a interoperabilidade organizacional e semântica.

Importância da interoperabilidade no âmbito governamental

A interoperabilidade desempenha um papel crucial no âmbito governamental, trazendo uma série de benefícios para a gestão pública. Através da colaboração e integração entre diferentes órgãos e sistemas, a interoperabilidade permite uma melhoria significativa na prestação de serviços ao cidadão. Ao facilitar o compartilhamento eficiente de informações, os processos de tomada de decisão são aprimorados, resultando em políticas mais embasadas e eficazes.

Além disso, a interoperabilidade promove a transparência das ações e dos dados governamentais. Através da troca harmoniosa de informações entre diferentes entidades, há uma maior visibilidade sobre as atividades e políticas adotadas pelo governo. Isso fortalece a confiança dos cidadãos, que podem ter acesso a informações relevantes de forma mais clara e compreensível.

A coordenação de projetos também é beneficiada pela interoperabilidade. Com a capacidade de compartilhar recursos tecnológicos e informações de maneira eficiente, os órgãos governamentais podem trabalhar de forma mais integrada, evitando duplicações e maximizando o uso dos recursos disponíveis. Isso resulta em uma melhor organização e execução dos projetos, garantindo uma maior efetividade e otimização dos resultados alcançados.

Em suma, a interoperabilidade no âmbito governamental é fundamental para uma gestão pública mais eficiente e transparente. Ao melhorar a prestação de serviços, possibilitar tomadas de decisão embasadas, promover a transparência dos dados e ações do governo, e facilitar a coordenação de projetos e o intercâmbio de recursos tecnológicos, a interoperabilidade contribui para o desenvolvimento e progresso das sociedades, atendendo de forma mais eficaz às necessidades dos cidadãos.

O ePing

A criação da arquitetura de interoperabilidade pelo governo brasileiro é um passo fundamental para impulsionar o avanço na área. A iniciativa visa estabelecer diretrizes claras e específicas para a utilização da Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC) no âmbito federal.

Através da ePing, que é um manual de estratégias dos Padrões de Interoperabilidade de Governo Eletrônico, são definidos requisitos, políticas e especificações técnicas para regular o uso da TIC pelo governo. Essas diretrizes têm como objetivo orientar os órgãos governamentais na implementação de soluções tecnológicas interoperáveis, permitindo uma interação eficiente entre os diferentes poderes, esferas de governo e a sociedade em geral.

A ePing estabelece condições para garantir a compatibilidade e a harmonia das tecnologias utilizadas pelo governo federal. Isso significa que os órgãos devem desenvolver soluções que estejam em conformidade com os padrões e especificações estabelecidos, assegurando a interoperabilidade dos sistemas e a troca eficiente de informações.

Essa iniciativa traz uma série de benefícios tanto para o governo como para a sociedade como um todo. Ao estabelecer uma arquitetura de referência, a ePing promove a coerência e a integração dos sistemas governamentais, facilitando a troca de dados e a coordenação de ações entre os órgãos. Isso resulta em uma melhoria significativa na prestação de serviços aos cidadãos, proporcionando um atendimento mais rápido e eficiente.

Além disso, a padronização de interoperabilidade fornecida pela ePing contribui para aumentar a transparência e a governança dos processos governamentais. Ao seguir as diretrizes estabelecidas, os órgãos garantem a conformidade e a qualidade das soluções tecnológicas, o que possibilita uma melhor gestão da informação e maior segurança dos dados.

Conclusão

A fim de viabilizar a interoperabilidade, é essencial que haja um consenso sobre como essa colaboração ocorrerá. Portanto, é de grande importância o conhecimento dos padrões tecnológicos utilizados nos mecanismos de interoperabilidade. Dessa forma, é possível reduzir o esforço necessário na criação das interfaces de interoperação, permitindo uma comunicação ágil e eficiente.

A adoção de padrões abertos é especialmente benéfica, uma vez que eles estão disponíveis publicamente e não são controlados por governos ou corporações específicas. Isso possibilita que empresas, cidadãos e países se conectem e troquem informações de forma autônoma. O uso de tecnologias de informação e comunicação baseadas em padrões abertos traz vantagens para todos, fortalecendo a interoperabilidade entre os participantes desse processo de comunicação.

Nesse contexto, é importante destacar que as políticas de cooperação e os processos de trabalho desempenham um papel essencial na camada organizacional da interoperabilidade. Eles definem as diretrizes e práticas que permitem a colaboração eficaz entre as partes envolvidas. Já na camada semântica, a intenção e o significado das informações, o contexto, a taxonomia e outras questões relacionadas são fundamentais para garantir uma interpretação correta dos dados compartilhados.

Na camada técnica, estão os dispositivos, interfaces, formatos de dados, entrega de dados e segurança. Esses elementos são cruciais para a comunicação eficiente entre os sistemas e para garantir a integridade e confidencialidade das informações trocadas.

Em resumo, a interoperabilidade requer o alinhamento em relação às formas de comunicação estabelecidas. Padrões tecnológicos, especialmente os abertos, facilitam a conexão e a troca de informações autônoma entre diferentes entidades. Além disso, políticas de cooperação, processos de trabalho, interpretação correta das informações e aspectos técnicos desempenham papéis-chave em cada uma das camadas, organizacional, semântica e técnica, contribuindo para uma interoperabilidade eficaz.